Olívia Habiere
Dona Heloisa entrou em choque com aquela carta. Será que sua filha havia tentado suicídio? Quem seria Lucas? O que de fato aconteceu com Olívia? As lágrimas escorriam, as mãos suavam e apertavam os próprios braços.
Diante de cada enfermeira que passava pelo corredor estreito, Heloisa abaixava a cabeça como se quisesse fugir daquele encontro. Na verdade, com medo de ter que encarar o pior.
Um ano atrás
Olívia passeava com a mãe no shooping para escolher seu vestido de formatura do colegial. As duas entraram em uma pequena loja cheia de vestidos coloridos e belos para a ocasião.
- Eu gostei mais do vermelho!
- Hum, o Jorginho vai se apaixonar.
- Para mãe! Não sei porque você insiste nessa história. Não gosto dele!
- Sei, sei...essa paixão de vocês não me engana.
Logo apareceu uma mulher com cabelos lisos e negros com uma aparencia amigável na frente delas.
- Com licensa, precisam de ajuda?
- Sim, eu queria provar este aqui.
Olívia tirou o vestido vermelho de onde estava pendurado e sorriu para sua mãe, talvez esperando por alguma aprovação.
- É para a formatura da minha filha. Ela tem que ser a mais bela do baile! Custe o que custar!
A vendedora logo abriu um sorriso e as chamou de lado.
- Eu tenho um vestido guardado a sete chaves no andar de cima. Ele é muito especial, não é um vestido comum. Ele é mágico faz qualquer mulher se tornar o centro das atenções. Este vermelho é lindo, mas assim que você experimentar o dourado sua vida vai mudar e nunca mais vai querer outro!
Olívia provou o vestido vermelho que lhe caiu muito bem, mas na hora que experimentou o vestido dourado, o caimento foi perfeito. O tecido abraçava o corpo dela, como se alguém o tivesse feito em cima de suas medidas. Realmente era entre todos, o vestido mais lindo que já havia visto. Os brilhos de strass pareciam mágicos e iluminavam seus olhos. Suas curvas pareciam perfeitas como sempre sonhara. O vestido realçava sua beleza de tal forma que era impossível não se apaixonar!
- Filha...!
Faltaram palavras para Dona Heloisa expressar a emoção.
- É este mãe!
- Sim filhinha, é este!
Enquanto a mãe parcelava o pagamento por quase um ano inteiro no caixa, Olívia se admirava no espelho. Se imaginava dançando no baile e o impacto que faria ao chegar tão bela. Por um instante seu coração disparou e teve a impressão de estar sendo observada, mas estava sozinha no provador, não havia uma alma viva lá. Olívia rodava seu vestido de um lado para o outro, extendendo aqueles segundos de auto admiração. Fazia caras e bocas, até que claramente viu no reflexo do espelho a imagem de um homem claro e gritou estericamente.
- Ahhhh!
Sua mãe e a vendedora correrão em direção ao provador.
- Olívia? Filha, o que houve? Está tudo bem?
Olívia por um segundo perdeu a voz, olhava e colocava a mão no espelho como se pudesse atravessa-lo. A imagem era fruto de sua imaginação. Não havia ninguém com ela, talvez tivesse sido o brilho dos strass que refletiram em uma imagem.
Em poucos segundos ela tirou o vestido e se vestiu com suas roupas normais para fora do provador.
- Sim mamãe, eu estou bem, só me assustei, não foi nada!
- Não vai me dizer que aqui tem barata? Você sabe que eu morro de medo desses bichos e devolvo agora o vestido que me custou o ollho da cara se descobrir que esta loja é habitada por estes mostros nojentos disfarçados de insetos!
- Calma mamãe! Não foi nada disso, eu achei ter visto um vulto, deve ter sido fome.
- Vai me dizer que não comeu nada hoje?
- A mãe, eu comi uma laranja,...quer dizer um suco de laranja.
Olívia tinha o pessímo hábito de pular refeições, ou troca-la por líquidos. Este hábito começou a se tornar mais frequente perto da sua formatura. Como muitas meninas da sua idade, Olívia tinha medo de engordar e queria estar deslumbrante na frente de todos seus amigos no baile, inclusive o Jorginho, sua paixão platonica há anos.
- Já falei para você parar com essa bobagem de regime. Você está muito magrinha. Quem gosta de osso é cachorro! Homem gosta de carne!
- Mãe pára de pegar no meu pé! Poxa, eu já tenho quase 18anos!
De volta ao presente.
Dona Heloísa parecia reviver aquelas lembranças. Olhando para a filha entubada e desacordada na cama do hospital ela segurou as mãos de Olívia e disse emocionada.
- Quase 18 não, já tem quase 19anos, mas você ainda é meu bebê eu não deixar você partir...
(to be continued. . .)
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