segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Parte V

No dia em que Olívia receberia alta dos médicos, seu pai veio visita-la. Daniel, era um surfista aventureiro que engravidou a mãe de Olívia durante um namoro de verão. Ele morava na California, nos Estados Unidos com outra família.

Por parte de mãe, ela era filha única, mas tinha dois irmãos por parte de pai, Steven e Matheus de 6 e 7anos. Daniel visitava a filha 1 vez ao ano sempre nas férias de inverno, pois adorava o verão brasileiro. Apesar do pouco contato com a filha, eles sempre trocavam emails e de vez em quanto se falavam por Skype e por telefone.

Daniel a chamava de `my Brazilian treasure`. (meu tesouro brasileiro) e apesar de não estar no seu período de férias e ainda não ser inverno nos Estados Unidos, ele fez questão de mostrar seu apoio e carinho pessoalmente.

No hospital a enfermeria autorizou a sua entrada no quarto e ele foi entrando com um sorriso no rosto e com um buque de flores e alguns cartões.
  • Como está meu tesouro brasileiro?
  • Pai?

Olívia ficou muito feliz em ver seu pai e lágrimas escorreram do seus olhos, pois ele nunca havia lhe dado flores.

  • Agora estou bem melhor, só de te ver, já estou bem melhor!
  • Fico feliz em te ver sorrindo my Brazilian treasure!
  • Veio sozinho? e a Jane, sua esposa e os meninos, cadê eles?
  • Vim sozinho princesa, mas o Mat e o Steven fizeram cartões lindos para você e a Jane lhe mandou um grande abraço e melhoras.

Daniel entregou nas mãos de Olívia dois cartões. O do Steven tinha um coração, pessoas sorrindo, um sol, e uma mensagem dizendo `get better, love Stev.` (melhore, com amor Steve) em inglês. O cartão do Mat espantou Olívia pois ele desenhou uma menina com vestido dourando ao lado de um homem e de um cavalo, escrito LUC.

  • Pai, o que o Mat escreveu aqui? LUC? o que isto quer dizer?

Daniel pegou o desenho e disse.

  • Filha, o seu irmão ainda está aprendendo a escrever, acho que ele quis dizer, LUV, amor, os meninos são loucos por você, eles ficaram muito preocupados e estão morrendo de saudades.
  • Mas pai, é que ele me desenhou com o vestido dourado, e este homem com cavalo . . .

Antes que ela pudesse continuar seu pensamento sobre aquele desenho, a enfermeira entrou no quarto.

  • Está pronta para voltar para casa?
  • Estou de alta?
  • Está sim e sua mãe já está subindo para te buscar, que bom que seu pai também está aqui assim a família inteira pode comemorar sua recuperação de volta ao lar!

Olívia deu um sorriso envergonhado, pois a enfermeira não sabia que seus pais não eram casados e que os três não faziam parte da mesma família. Olívia tinha duas famílias, a do seu pai durante as férias e a sua mãe e amigos durante o ano inteiro. Mas seus pais eram praticamente dois estranhos entre si, não tinham nenhum laço familiar que não fosse ela.

(dentro do carro)

Daniel, o pai de Olívia, acompanhou Helena e a filha no trajeto de volta para casa.

  • Mãe o papai pode passar un dias em casa?

Dona Helena ficou sem resposta, não sabia o que falar naquela situação.

  • Eu adoraria passar uns dias ao lado da minha filhinha, para falar a verdade eu só fechei o hotel por uma noite, mas estou com 10dias de folga pela empresa e não gostaria de ir embora sem ter certeza que meu tesouro está bem.

Helena começou a suar frio, não estava gostando daquela situação. Tinha criado sua filha sozinha, Daniel trabalhava como gerente de um restaurante de quinta, ela era gerente de marketing de uma multinacional, uma executiva que não dependia de nenhum homem e não namorava há mais de 2 anos. Ele o maior sedutor da fase da Terra, casado com filhos. Imagine só, ele de perna para o ar passando uns dias na sua casa? Apesar de ser pai da sua filha a idéia de tê-lo por perto não lhe agradava.

  • Daniel, sua filha já está bem, agradeço por ter vindo, mas não precisa perder tantos dias de trabalho para ficar no Brasil, ela está sendo cuidada e você sabe disso, nunca faltou nada para Olívia!

Daniel abaixou a cabeça se calando e Olívia interveio na conversa.

  • Faltou sim mãe! Faltou meu pai e eu queria que ele ficasse um tempo comigo. Temos um quarto de visitas e ele não está perdendo dias de trabalho, o chefe dele já deu folga mesmo!... E aí mãe, o que você acha?

Dona Helena queria responder naquela hora tudo o que ela achava. Achava que o pai dela não prestava, achava que ele era um sonhador, achava que ele queria ficar na casa com a filha porque estava duro para pagar um hotel no Brasil, achava que apesar do seus 43 anos ele ainda se portava com um menino de 25anos. E para piorar, achava que ele não havia envelhecido nada nesses dezoito anos o que a deixava mais brava, pois além de tudo ela era 4anos mais velha e esses 4anos a mais pesavam um século no espelho. De jeito nenhum! Daniel não ficaria hospedado em sua casa. E com todo sua firmeza, Dona Helena respondeu.

  • O que eu acho?... Acho que não tem problema nenhum ele ficar em casa, será um enorme prazer!

Um comentário:

  1. Aqui vai um Olá de Portugal!
    Devido aos estudos (estou a estudar enfermagem e tive hoje teste de psiquiatria) acabei encontrando o seu blog, tanto este como o outro mais pessoal que você tem. Bulimia foi uma das temáticas que saiu no teste que tive hoje, aprendi muito com seu blog.
    Deixa-me dizer-te que este conto da Olívia até agora está muito bonito e bastante viciante, é bom ler e reconhecer os sinais, sintomas da doença, além disso a história que você elabora através dos sonhos dela é muito engraçada, no sentido que toda a gente espera ter um anjo da guarda, que até agora foi o que eu percebi que o rapazinho mediaval é :)

    Gosto muito dos seus textos :)

    Beijos do outro lado do oceano! *

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